Wednesday, June 18, 2014

O Mourinho Racista


Admito que sou um dos que considerava o José Mourinho um treinador de futebol acima da média devido, essencialmente, ao facto de ele apostar no conhecimento emocional dos seus jogadores de modo a tirar, friamente, proveito disso em termos desportivos. Mas afinal, o homem que eu tinha como sendo um «ignorante douto» padece - assim revela o seu comentário em relação ao que fez Pepe no presente mundial de futebol - de uma séria enfermidade intelectual chamada «ignorância ignorante». Não só devido ao teor paternalista (parece que foi Portugal que prestou um grandíssimo favor ao ex-colonizado Pepe ao lhe atribuir uma segunda nacionalidade e não o contrário), xenófobo e racista das suas palavras, demonstrativo da visão limitada que ainda grassa por este mundo sobre a identidade (que é, por natureza, complexa, contextual, compósita, plural, conflituosa, «assassina» e alucinante...), mas por revelar um desconhecimento abismal sobre si mesmo. Pois é, o senhor Mouro Pequeno (Mourinho para respeitar a grafia oficial), parece olvidar, a julgar pelo seu apelido, que também ele não é Português, no sentido em que as suas raízes - tal como de todos os outros seus concidadãos - podem não estar somente na península ibérica, mas, por exemplo, na Mauritânia (a terra dos Mouros e dos Negros que ocuparam a dita península durante a dinastia dos Almorávidas) no Norte de África. Pois é senhor Mouro Pequeno (não resisti a repetir isso), não se olhar ao espelho dá nisso e basta começar-se a escavar e a desconstruir as narrativas identitárias essencialistas para acabarmos por chegar, mais cedo ou mais tarde, ao primeiro humanoide que, segundo rezam as crónicas, surgiu no que convencionalmente passou a chamar-se de África a partir do encontrão violentão colonial.
Contudo, para que conste, considero que Pepe é um jogador execrável que nunca mais devia jogar pela selecção portuguesa e por equipa alguma por representar algo que o futebol e todas as actividades humanas precisam continuamente combater: a violência.