Parece que a tão famosa "Diplomacia Secreta" que
classicamente caracteriza as principais chancelarias do mundo (incluindo as dos
Estados da União Europeia [UE]) foi, como dizem os nossos irmãos brasileiros,
"para as cucuias" na basofolândia. Contudo, se da primeira vez (vide a entrevista ao jornal local expresso das ilhas: http://www.expressodasilhas.sapo.cv/exclusivo/item/44569-jose-manuel-pinto-teixeira-cabo-verde-perde-oportunidades-porque-o-ambiente-de-negocios-e-mau) o assomo da "Diplomacia Pública" (cuja assumpção pelas chancelarias tenho
defendido) por parte do Embaixador da União Europeia em Cabo Verde teve aparentemente um cunho militante, da segunda (vide excertos da entrevista concedida à televisão pública cabo-verdiana: http://www.rtc.cv/tcv/index.php?paginas=45&id_cod=41265; e/ou a conversa completa em: http://www.rtc.cv/tcv/index.php?paginas=41&id_cod=41253) não passou nitidamente de
uma perversa revange por parte do mandatário europeu por alegadamente ter recebido um “bolo” por parte do
governo cabo-verdiano ao seu jantar de recepção por ocasião da dita “semana da UE”.
Não que eu esteja a favor do facto de os meus "coitados" e "pobres" compatriotas de
um país africano que fica nos “cus de Judas” (que António Lobo Antunes me
perdoe por tão má citação e publicitação de sua magnifica obra) por poderem ter tido a
coragem e a petulância de recusar um magnífico regabofe oferecido gratuitamente
pelo diplomata originário de um país “irmão” como Portugal (sim porque de acordo com as crónicas
dominantes parece que a tal irmandade foi apenas fruto de um harmonioso
encontro e fusão de culturas e não também o resultado de um encontrão “violentão”
mediante um colonialismo brutal e explorador como outros) que de forma muito “desinteressada”
e “solidária” (em alguns manuais isso é chamado de neo-colonialismo, colonialidade ou neo-lusotropicalismo) ajudou o país-arquipélago a alcançar a badalada “parceria especial” com a UE.
Não! O seguimento do mandamento dominante básico da diplomacia levaria o governo responder à altura do
pronunciamento feito pelo representante da UE a partir da escolha entre dois caminhos: o da diplomacia
secreta, chamando o embaixador, e a própria EU, à uma conversa informal na qual afirmaria a não admissão
da intervenção pública de diplomatas estrangeiros em assuntos de índole interno, ou faria um protesto formal pela atitude junto da mesma ou ainda, no máximo, pediria a substituição do referido diplomata (em outros lugares, isso daria direito a uma expulsão imediata); ou, mediante a diplomacia pública, fazendo uma declaração ao país através do
Ministro, ou da Secretaria de Estado, das Relações Exteriores sobre a questão
não só para denunciar a postura colonial do procurador da UE mas também para reafirmar a decência do povo que o elegeu. No entanto, o governo do Estado do meu país resolveu, tal
qual uma criança e para a minha profunda tristeza, fazer uma birra! Sabendo que não existem
“almoços (nesse caso manjares ao lusco fusco) grátis” na Política Internacional, o governo
teve receio de pôr em perigo as esmolas até então cedidas pela EU, e que têm
beneficiado verdadeiramente apenas os do seu círculo íntimo, caso a enfrentasse
directa e oficialmente por tamanho descaso por parte de um seu delegado, independentemente da pertinência e veracidade ou não das críticas que este efectuou à governação do país (no caso da alegada justeza do acordo de pescas com a UE, os tubarões azuis ilhéus devem ter ficado vermelhos de tanta indignação perante tal descaramento!). A
meu ver, está mais do que na hora da ilha Lilliput cabo-verdiana (como sabem, Lilliput é uma ilha fictícia do romance As Viagens de Gulliver, de Jonathan Swift. Também lhe peço absolvição pela vil citação de tão aclamado
livro. Aqui a utilizo como equivalente
ao personagem bíblico de David) procurar construir, a médio e longo prazo, uma
real aliança (e a não a versão induzida pela própria UE) com outras pequenas e
grandes nações africanas, e não só, para pôr cobro ao neo-imperialismo da Europa Fortaleza
(o equivalente à também bíblica figura de Golias). Como diria o outro: “dignity,
always dignity!”. É preciso lutar pela dignidade, mesmo que não sobre nada
mais!!!
In-disciplinar(idade)(s)
Para Além da Inter-disciplinaridade, Para Lá da Trans-diciplinaridade...
Wednesday, May 27, 2015
Monday, January 26, 2015
Re-Fim das Ideologias?
http://www.publico.pt/mundo/noticia/syriza-iniciou-contactos-para-formacao-de-uma-maioria-no-parlamento-1683379
Disse-me alguém: "Será que isso significa o fim das ideologias na Europa?"
Disse-me alguém: "Será que isso significa o fim das ideologias na Europa?"
Eu respondi-lhe: "No mínimo é uma dor terrível para liberais e socialistas dogmáticos de serviço, inclusive para os pseudo-intelectuais que "representam" essas ideologias eurocêntricas nas ex-colónias europeias em África, que são "mais papistas que o próprio papa" e que, segundo Redy Wilson Lima (http://ku-frontalidadi.blogspot.ca/2015/01/liberdades-democracias-e-afins.html), chegam a apelidar alguns autores africanos de "africanistas" quando estes defendem a existência milenar de outras ideologias em África para além das tradicionais esquerda e direita europeias. Deveriam então ser europeístas?
Em tempos como estes (em que a extrema direita francesa apoia a esquerda radical grega ou em que encontramos militantes de origem africana em Partidos Neo-nazis (é o caso de um cabo-verdiano na Holanda nos tempos de Pim Fortuyn), cada vez mais é preciso repensar as ideologias de acordo com os contextos actuais, é necessário um combate em prol da emergência das ideologias alternativas silenciadas pela, ainda vigente, modernidade/colonialidade europeia e, finalmente, torna-se fulcral o forjar de alianças locais, nacionais e e trans-nacionais entre as ideologias subalternizadas (não só em África, Ásia e América, mas também na própria Europa) por essa modernidade/colonialidade, visando resgatar e aplicar os seus potenciais libertários e emancipatórios".
Retorquiu-me esse alguém: "Foste profundo Odair. Não estás a exagerar?".
Eu: "Ainda nem comecei a aquecer".
Saturday, January 24, 2015
Tuesday, October 07, 2014
Em Diplomacia Académica...
Uma das minhas primeiras actividades enquanto Post-doct Fellow na UQAM | Université du Québec à Montréal: a participação numa conferência (no dia 30 de Setembro) de um dos mais importantes sociólogos europeus do século XX, o veterano ALAIN TOURAINE (o senhor de cabelos brancos, de 89 anos, que está sentado na mesa). Contudo, a diplomacia académica em que estou imbuído obriga-me a lamentar a profunda cegueira que ainda grassa no seio das Ciências em geral e nas Ciências Sociais e Humanas em particular - que se sente de forma vincada nas Universidades do Norte Global - em relação a outras constelações cosmogónicas que existem pelo mundo. Infelizmente, a secreta esperança que eu tinha de que a longevidade do Touraine o pudesse ter tirado das malhas do eurocentrismo - até porque para produzir conhecimento «novo» a idade e o tempo não são adversários imbatíveis - saiu frustrada pois o máximo que vislumbrei nas suas palavras foi uma crítica interna à ciência moderna e não ao quadro eurocêntrico que o enforma ignorando, consequentemente, o papel fundamental do colonialismo europeu para a sua hegemonia. É razão para, resgatando e ecologizando a máxima utilizada pelos movimentos de libertação em África dos anos 60 e 70 do século XX, afirmar que «a luta continua!»
http://www.evenements.uqam.ca/?com=detail&eID=501158
Wednesday, June 18, 2014
O Mourinho Racista
Admito que sou um dos que considerava o José Mourinho um treinador de futebol acima da média devido, essencialmente, ao facto de ele apostar no conhecimento emocional dos seus jogadores de modo a tirar, friamente, proveito disso em termos desportivos. Mas afinal, o homem que eu tinha como sendo um «ignorante douto» padece - assim revela o seu comentário em relação ao que fez Pepe no presente mundial de futebol - de uma séria enfermidade intelectual chamada «ignorância ignorante». Não só devido ao teor paternalista (parece que foi Portugal que prestou um grandíssimo favor ao ex-colonizado Pepe ao lhe atribuir uma segunda nacionalidade e não o contrário), xenófobo e racista das suas palavras, demonstrativo da visão limitada que ainda grassa por este mundo sobre a identidade (que é, por natureza, complexa, contextual, compósita, plural, conflituosa, «assassina» e alucinante...), mas por revelar um desconhecimento abismal sobre si mesmo. Pois é, o senhor Mouro Pequeno (Mourinho para respeitar a grafia oficial), parece olvidar, a julgar pelo seu apelido, que também ele não é Português, no sentido em que as suas raízes - tal como de todos os outros seus concidadãos - podem não estar somente na península ibérica, mas, por exemplo, na Mauritânia (a terra dos Mouros e dos Negros que ocuparam a dita península durante a dinastia dos Almorávidas) no Norte de África. Pois é senhor Mouro Pequeno (não resisti a repetir isso), não se olhar ao espelho dá nisso e basta começar-se a escavar e a desconstruir as narrativas identitárias essencialistas para acabarmos por chegar, mais cedo ou mais tarde, ao primeiro humanoide que, segundo rezam as crónicas, surgiu no que convencionalmente passou a chamar-se de África a partir do encontrão violentão colonial.
Contudo, para que conste, considero que Pepe é um jogador execrável que nunca mais devia jogar pela selecção portuguesa e por equipa alguma por representar algo que o futebol e todas as actividades humanas precisam continuamente combater: a violência.
Thursday, January 30, 2014
O Ghandi Racista
Sessenta
anos após a morte de Mohandas Karamchand Gandhi (02-10-1861/30-1-1948), vale a
pena aproveitar esta oportunidade para realçar a necessidade de “desconstruir”
os mitos (os heróis são de carne e osso e estão pejados de paradoxos e
ambiguidades) criados ao sabor dos interesses de determinados grupos e/ou
actores: sem pôr em causa a defesa de que Ghandi é um dos pais do princípio da
não-violência e do Pacifismo [embora eu defenda que existe uma confusão/distorção
conceptual na equiparação entre a desobediência civil defendida e praticada por
Ghandi – poucos sabem, ou ignoram propositadamente, que Ghandi, a seguir à
independência, criou milícias armadas para “proteger” o novel Estado – e a
corrente extremista do Pacifismo pois a primeira implica não só a utilização da
violência necessária para resistir à
opressão como também uma organização proactiva e rebelde visando atingir à emancipação
ao contrário do Pacifismo radical que defende uma postura passiva dos
pacifistas, ou seja, a não utilização da violência em nenhuma situação], é
preciso reconhecer, sem dramas, que o racismo – enquanto herança cultural do colonialismo
britânico na Ásia e em África, mais particularmente na África do Sul onde
Gandhi trabalhou - está bem presente no pensamento dele. Os exemplos são
diversos: a 7 de Março de 1908, Gandhi opinou no jornal Opinião Indiana acerca do tempo que passou numa prisão sul-africana
da seguinte maneira: “Os cafres [negros.
É de realçar, contudo, que a palavra kaffir
tinha uma conotação diferente, mais neutral, no tempo de Gandhi em relação
ao seu significado actual onde é considerado ofensivo] são, em regra incivilizados – os condenados são-no ainda mais. Eles são
problemáticos, muito sujos e vivem quase como animais” (Ghandi, 1960-1994: 199).
Sobre o tema da imigração, em 1903, Gandhi diz: “Acreditamos na pureza da raça tal como nós
pensamos que eles acreditam...acreditamos também que a raça branca na África do
Sul deve ser a raça predominante” (idem: 255). Gandhi protestou
repetidamente contra a equiparação da classificação social dos negros com a dos
indianos na África do Sul e descreveu os indianos como “sem dúvida, infinitamente superior aos cafres” (idem: 270).
E não abro
mais o véu indiano para não transformar pacifistas gandhianos em belicistas com
um único alvo…
Fontes:
-The Collected Works of Mahatma
Gandhi, Vol. 3 e 8. Publications Division, Ministry of
Information & Broadcasting, Government of India. New Delhi: India. 1960/1994/1998.
-Carroll, Rory (2003), “Gandhi
branded racist as Johannesburg honours freedom fighter”. Disponível em: http://www.theguardian.com/world/2003/oct/17/southafrica.india (acesso a
30 de Janeiro de 2014).
Friday, November 15, 2013
Continuidades Coloniais I
Li algures que a Polícia Nacional (PN) celebra o 143º
aniversário. Hmmm. Perdoem-me a ignorância (não sei se ignorante ou douta) mas
sinto que existe algo que não bate bem. Se nós somos um Estado (reconhecido
internacionalmente pelos demais pares da Sociedade Internacional) somente a
partir do dia 05 de Julho de 1975, como é que uma instituição pública/estatal
como a PN pode comemorar tal feito? Será que estamos perante um case study de
uma instituição estatal que antecede o seu próprio criador ou, no fundo, não
passa, como diria alguém, de mais uma «inovação» da basofolândia crioula (ou
basofaria crioula) que pretende dar um ar secular a uma instituição que,
efectivamente, não teria mais do que 38 anos de existência? De qualquer forma,
é preciso alertar (e aqui estou a tentar ser pedagógico/liricista para não ser
acusado de cair no belicismo típico da tal instituição secular) que esta
celebração acaba, no mínimo, por também celebrar o tal encontrão violentão
colonial simbolizado no ano de 1870 com a implantação da polícia colonial
(chamada de Ordem Pública) na colónia de Cabo Verde, não visando, como é óbvio,
assegurar a paz e a segurança da população autóctone mas sim o controlo da
exploração colonial (convêm não olvidar que de estamos nas vésperas da
conferência de Berlim em 1885 e do vigorar do princípio da ocupação efectiva)
tão defendida pelo Marquês de Pombal anteriormente...As continuidades coloniais
estão aí...é preciso combatê-las no sentido de desmascarar a instrumentalização
da cegueira (diversas vezes promovida e alimentada tanto dentro como fora de
portas)...
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