Monday, February 11, 2008

A Falácia da Democracia dita «Representativa»

«(...) se esta cegueira (...) não os estará a desviar da direcção correcta, a empurrar para o desastre extremo que seria o desmoronamento talvez definitivo de um sistema político que, sem que nos tivéssemos apercebido da ameaça, transportava desde a origem, no seu núcleo vital, isto é, no exercício de voto, a semente da sua própria destruição ou, hipótese não menos inquietante, de uma passagem a algo completamente novo, desconhecido, tão diferente que, aí, criados como fomos à sombra de rotinas eleitorais que durante gerações e gerações lograram escamotear o que vemos agora ser um dos seus trunfos mais importantes, nós não teríamos de certeza lugar.»
Saramago, José (2004); Ensaio sobre a Lucidez, Caminho, p. 180.


A contradição inerente ao institucionalizado slogan ocidental da Participação «Popular» ou, como se está mais na moda apregoar devido ao temor em relação a uma suposta contaminação/conotação ideológica do termo, da Participação «Cidadã» e/ou «Democrática», reside no carácter colonial e excludente do próprio conceito de participação: se esta, numa visão positiva, é procurada de diversas formas (emancipatórias ou não), isso pode significar que os que «participam» no momento poderão vir a ser ou sentir-se excluídas da(s) nova(s) modalidade(s) de participação e, numa visão negativa, quando essa procura é rechaçada, isso pode querer dizer simplesmente a prevalência da colonialidade da participação por via de uma das suas versões «coloniais».